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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Portugal, Cem Limites: Mens Agitat Molem

 
Castro de Santa Tecla, Idade do Ferro, A Guarda, Galiza.

Compreende-se melhor a identidade dos povos do oeste da Península depois de ver este lugar: a foz do Minho, no último extremo da terra antes do Atlântico. Aqui fez-se Galiza e Portugal antes de nascer Cristo e conhecia-se a mais antiga cosmogonia: Ar, Fogo, Terra, Água e Espírito ou Verbo, Luz, Matéria, Vida e Vontade para sublimá-la. Longa vida aos filhos dos gróvios!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Portugal, Cem Limites: Algarve (Silves), séc. XII

Lápide e bocal de poço, Silves, séc. XII, Museu Arqueológico Municipal. No Gharb Al-Andalus vivia-se o período moçárabe, mas haveria uma escola que ensinava uma harmonia maior?
 
Primeira síntese medieval do tetragrama hebraico e da trindade cristã, por Petrus Alphonsi, judeu Andalus convertido ao cristianismo no início do séc. XII. Explica o antigo nome de Deus nas interseções da trindade trifronte - a causa do começo e (da consciência) do ser.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Portugal, Cem Limites: Lusitanos e Gróvios, séc. I

Guerreiros Lusitano-Galaicos, c. I a.C - I d.C., Castros do Noroeste. Museu Nacional de Arqueologia.
Mens agitat molem.
 
Símbolos gróvios, Castro de Santa Tecla (séc. I a.C - I d.C.), A Guarda, Galiza. Os Gróvios habitavam a região do vale do rio Minho até ao rio Douro e o historiador romano Plínio atribuiu-lhes uma origem grega, possivelmente, e não celta.
 
Moedas da Cilícia (Anatólia, costa do Mediterrâneo), c. V a IV a.C., durante o período de domínio grego e aqueménida. O touro bicéfalo encontra-se também nos capitéis de Persepolis. Um deus trifronte é outra figuração possível dos mesmos símbolos, adaptado depois pelo Cristianismo na trindade e em alguma iconografia renascentista de Jesus Cristo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Portugal, Cem Limites: D. Afonso Henriques, 1140

As armas e os barões assinalados na cruz morta do mundo partiram e entre gente remota edificaram a rosa que é a Vida novo reino que tanto sublimaram: vede-o no vosso escudo que presente vos mostra a vitória já passada na qual vos deu por armas e deixou a liberdade. 

Rex Portugal. Primeiro momento conhecido em que Dom Afonso Henriques assinala como Rei de Portugal: a Carta de doação do Couto de Villa Menendi e Santa Maria de Estela ao Mosteiro de Tibães, em julho de 1140. Arquivo Nacional Torre do Tombo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Portugal, Cem Limites: Gil Vicente, 1506

 
A Custódia de Belém com o ouro de Quiloa, ou o espírito da travessia do mau tempo. Nos limites do que se olha  e não vê está o discípulo amado, junto ao corpo de Cristo.

domingo, 4 de outubro de 2009

Portugal, Cem Limites: Mateus Fernandes, 1498


Entre todas as obras do manuelino em Portugal, a fonte no Museu Nacional de Arte Antiga é talvez a mais poderosa. Representa o rei D. Manuel I e a rainha D. Leonor, sua irmã, viúva do rei D. João II, e as divisas dos dois: a armilar (spera mundo) e o camaroeiro.

O título na esfera, EMPRP, diz-nos que a obra é datável ente 1495 e 1499, ano em que o título régio ganhou a extensão de d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. 

A representação conjunta da rainha consorte viúva com o irmão soberano é mais provável tratando-se de encomenda da própria D. Leonor, possivelmente durante o tempo em que esteve regente de Portugal por ocasião de uma longa viagem de D. Manuel I a Castela e Aragão, em 1498. Sendo uma encomenda de D. Leonor, é provavelmente trabalho do seu arquiteto e mestre pedreiro favorito, que trabalhou na sua capela e hospital termal nas Caldas da Rainha, que já era arquiteto de D. João II e foi um dos criadores das capelas imperfeitas do Mosteiro da Batalha: Mestre Mateus Fernandes, o Velho (m. 1515).

A iconografia aborda os princípios opostos das mais antigas tradições orientais e ocidentais, que falam de uma síntese necessária para que o Homem possa alcançar a união com o mundo superior: Alma e Espírito, Vida e Vontade, para despertar Kundalini, a energia cósmica do Absoluto contida em cada ser e representada pela serpente em espiral ou dupla hélice. Ou também: compaixão e ação ordenadora do Bem, contemplar a impermanência e agir com equanimidade.

Sendo criada nesse ano extraordinário de 1498, é provável que invoque também o mais ousado programa de política externa de Portugal, inciado por D. João II e continuado por D. Manuel: a união do Ocidente e do Oriente numa aliança com o Reino do Preste João (Abissínia) para controlar o mar. E ainda o mais fantástico programa metafísico: a reunião do Cristianismo ocidental com a Tradição oriental de onde nasceu.

É também uma serpente, que engole a própria cauda (o ouroboros), o símbolo da eternidade.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Portugal, Cem Limites: Nuno Gonçalves, 1445

e os painéis de S. Vicente, que anunciam o Renascimento e a modernidade com um retrato sem igual de homens habitados de mistérios e de dúvida, do espírito do tempo que haveria de situar o indivíduo no centro de toda a liberdade e refundar regimes políticos e sociais na Europa.

E sobretudo o magnífico enigma que aí deixou, desde o primeiro símbolo da cosmogonia ao Cristianismo e ao futuro, num bailado iconográfico que resume a memória mítica da Humanidade.

Aqui sincretizou as trindades de Pai, Mãe e Filho com Pai, Filho e Espírito Santo; reuniu Alma e Espírito no Cristo, no Homem e no corpo do Príncipe D. Afonso V; fez imagens para a trindade do Tempo de Joaquim de Flora em forma de Baal Janus trifrontre que coloca a sua ilusão a Ocidente e a verdade a Oriente, pedindo a transmutação do passado no futuro. No centro da idade do Filho colocou a Vontade para criar a idade terceira: a do Espírito Santo.

Neste espelho de trindades simétricas tudo se harmoniza para criar a grande obra do Ocidente: convivem Mazda, Mitra, Cronos, Pitágoras, Platão, Euclides, São Miguel, Cristo, o Crisol e o Ouro, o Ein Soph e as Sefirotes. Estão mais de 5.000 anos de pensamento mítico e metafísica.

Nada há com um programa igual na arte ocidental. É o mais sofisticado voto simbólico pela imersão de um país no Espírito Santo, pela missão de conduzir a nação e o mundo à luz da compaixão cristã, à liberdade do pluralismo e à justiça da igualdade idealizada por Joaquim de Flora.

Desde a cruz e dos fundadores de Borgonha, aos refundadores de Avis, o sonho do sapateiro de Trancoso e a viagem magnífica dos Lusíadas, o Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Almada Negreiros... todos aqui se reúnem também e viverão na perfeição inacabada do começo.

Na cronologia do tempo histórico, aqui está também D. Pedro, o servidor, cavaleiro da  Ordem da Jarreteira, regente de Portugal escolhido pelas Cortes de Lisboa; e o seu irmão, o Infante D. João, Grão-Mestre da Ordem de Santiago, a espada como marco e como cruz. Na posição desta espada, fosse também pelo génio do pintor ou coincidência, está o futuro: foi pela cruz e não pela espada que os Infantes D. João e D. Pedro quiseram liderar Portugal. Opunham-se às conquistas e posse de terra em África e defendiam a exploração e a aliança e esta foi talvez a divergência maior entre D. Pedro e a nobreza que apoiava o seu irmão D. Afonso. Foi a causa da morte de D. Fernando, em Fez, pela futilidade da conquista. E veio a ser a causa da morte de D. Pedro, às mãos do seu irmão, e da perda de muitas vidas de homens e mulheres que teremos de lamentar até ao fim do tempo. Mas os portugueses não estavam à altura da verdade de Joaquim de Flora. 

Portugal, Cem Limites: Os Surrealistas, 1949

Mário Cesariny, Naniora (a Poesia), c. 1950

Entre nós Os Surrealistas devolveram-nos a coragem da liberdade, celebraram a grande arte antiga portuguesa e prestaram homenagem à arte africana. É para eles, por isso, o primeiro destes cem limites da criação de Portugal.

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte   violar-nos   tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Mário Cesariny  (1923-2006)

que o amor se conta em anos de morte
e sabe que há um sinal
que marca a ruína infalível para a qual escorregamos
a sonhar o enigma das torres que emigram
presas a fios de aço
e que partem com o pensamento
em todas as direcções.
Henrique Risques Pereira (1930-2003)

que palavra é a hora
que hora é o pão tenro e quente!
Fernando Alves dos Santos (1928-1992)

Eu sei que os candeeiros ardendo de noite
são os pulmões dos peixes-voadores.
Mário Henrique Leiria (1923-1980)

Meu lamento não é raiva nem certeza. Espreitei na fechadura dos horizontes e o que eu julgava ser vácuo e raiva emplumada mostrou-se-me coalhado de cogumelos e de lagartas.
Pedro Oom (1926-1974)

Carlos Eurico da Costa, Cavaleiro de Palaguin, c. 1950

Na cidade de Palaguin o dinheiro era olhos de crianças... Havia janelas nunca abertas e altas prisões descomunais sem portas...Havia um corpo de bombeiros que lançava gasolina nas chamas...Havia pobres que aceitavam como esmola sacos de ouro de 302 quilos.
Carlos Eurico da Costa (1928-1998)

Quero olhar o dia a dia nos olhos, insatisfeito, como se olham os amantes. Na verdade todas as coisas têm asas, e sexo...Os que querem agarrar com ambas as mãos o impossível não se apercebem que o impossível acontece todos os dias...E aqui, onde nascemos, é precisamente o local onde o mar se afogou. Mas será por acaso que dois dos quadros mais importantes do imaginário e do mistério estão em Portugal?...
Cruzeiro Seixas (n. 1920)

A construção dos poemas
é como matar muitas pulgas com unhas de ouro azul
é como amar formigas
brancas obsessivamente junto ao peito
olhar uma paisagem em frente e ver um abismo
ver o abismo e sentir uma pedrada nas costas.

António Maria Lisboa (1928-193), para o Artur do Cruzeiro Seixas